Somos um grupo de Mulheres Rastafaris organizadas que nascemos (em maioria) no Brasil e aqui moramos em diversos estados, tais quais, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e Ceará.
Realizamos trabalhos na área social, cultural, ambiental, de saúde e cerimonial.
Viemos, através deste documento, manifestar nossa inconformidade com a forma como o Estado brasileiro e suas uniões federativas, assim como seus órgãos, instituições e autoridades vêm tratando os Homens Rastafaris no país, que são nossos esposos, irmãos e filhos.
Os Homens e as Mulheres Rastafaris não fazem mal a ninguém, ao contrário, respeitam todas as pessoas, animais, plantas e todos os seres à sua volta. São vegetarianos, respeitam o meio ambiente, são justos em suas relações sociais e promovem bons sentimentos e boas atitudes em todas as suas ações. E lutamos contra toda forma de injustiça e intolerância. Os ideais Rastafaris são baseados nos mais nobres valores humanos, os quais Jesus Cristo reafirmou em Sua vinda, que são eles Amor, Harmonia, Respeito e União.
Há mais de 35 anos existem Rastafaris no Brasil, e desde lá eles têm sido tratados de forma discriminatória, no que diz respeito à sua aparência e modo de vida. No contexto sócio-histórico de 35 anos atrás, entendemos que isso existia, pois vigorava a ditadura militar, e havia uma grande opressão e limitação de liberdades. Nesta época, muitos irmãos foram presos apenas pela forma de seus cabelos dreadlocks, e muitos optaram pelo exílio. Mas desde lá, muito avançamos no país, e muitos tratados internacionais foram subscritos, inclusive aqueles que dizem respeito à liberdade religiosa, ao direito à diferença e aos direitos humanos em geral.
Além disso, sabemos que, em grande parte, essa discriminação existe pela razão da forma de Vida Rastafari ser de origem Africana, dessa forma, muito dos preconceitos destinados à população negra são estendidos aos Rastafaris em geral, mesmo quando tendo a sua pele clara.
Manifestamos aqui que Rastafari se baseia na mais antiga tradição Etíope africana, a qual se resume em viver de uma forma natural e espiritual, em harmonia com toda a Criação Divina. Suas práticas inserem-se dentro de um contexto sócio-cultural de religiosidade ancestral africana. Suas cerimônias não são compreensíveis para a maioria da sociedade, e suas autoridades, como pouco conhecem, em geral, de África. Mas a falta desse conhecimento não é empecilho para que haja respeito e tolerância, pois vivemos em um Estado laico que valoriza e promove sua diversidade.
Apesar disso, nossos direitos de liberdade de culto e manifestações culturais têm sido violados por um sistema policial (que faz parte da estrutura do Estado) que não dialoga, está despreparado para conviver com o diferente, assim como estavam em séculos passados quando prendiam sacerdotes afro-descendentes e fechavam terreiros.
Mais especificamente, nesta carta, gostaríamos de expor que queremos ser respeitados em nossa diferença, e ter o direito de expressar nossas práticas cotidianas e cerimoniais. A Cannabis Sativa, chamada por nós geralmente de Ganja, é utilizada em todo o mundo pelos Rastafaris, desde tempos imemoriais. Ela é usada com uso terapêutico, relaxante, lúdico e principalmente cerimonial. A forma de vida e o modo de ver Rastafari não têm razão nenhuma para crer que a Cannabis Sativa possui algo de ruim, pelo contrário, sabemos de todos os seus benefícios, admiramos toda coisa que foi criada por Deus e acreditamos na Sua Sabedoria Divina acima da sabedoria do homem. Na lei de Deus, essa planta existe desde que tudo foi criado, e, na lei do homem, ela foi proibida há muito poucas décadas, e até mesmo hoje já são reconhecidos e afirmados cientificamente os seus benefícios.
Baseado na Constituição Nacional que garante: liberdade de expressão, liberdade de culto e direito à diferença; assim como nos tratados e convenções internacionais, como: a Declaração de Durban, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Convenção de Viena das Nações Unidas sobre Substâncias Psicotrópicas, demandamos que nossos direitos de liberdade e livre arbítrio e em especial de liberdade de uso de substâncias para uso cerimonial religioso sejam respeitados pelo Estado brasileiro e suas instituições.
Antes de concluir, gostaríamos de acrescentar que a forma de cabelos utilizada pelos Rastafaris, chamada de dreadlocks, é parte de um voto religioso, Voto Nazireu, realizado intimamente com Deus. Seu uso é amplamente difundido entre Homens e Mulheres Rastafaris e são fortemente ligados à sua identidade religiosa e cultural. Por tanto sua violação significa um crime grave contra os direitos individuais e coletivos de fé e opção religiosa. Denunciamos e repreendemos a atitude de policiais arbitrários que realizam esse tipo de ato, independente da acusação pela qual o indivíduo está sendo preso. Como o ocorrido com o Irmão Pedro Caetano que, ao ser preso em Niterói-RJ, teve seus cabelos(Voto) cortados.
Como Mulheres Rastafaris nos manifestamos em defesa dos direitos dos homens de nosso movimento, pela proteção de nossas famílias, crianças e pela estabilidade de nossas comunidades.
Essa carta é assinada pelas Mulheres do Projeto Omega Nyahbinghi, que, dentre as quais, como mulheres cidadãs brasileiras, atendem pelos nomes seguintes com documentos respectivos:
1- Luísa Andrade de Sousa – RG: 1076839933 – Cientista Social, Pós Graduanda em Relações Étnico-Raciais e Educação- CEFET/RJ;
2- Dina Lopes – Salvador/Bahia - RG: 02447478. Estudante de sociologia, Atuante de Movimento Negro, atuante do movimento de Economia Fórum Metropolitana Economia Solidária, Conselheira do Conselho Municipal da Mulher - Membro da Associação Cultural Nova Flor;
3- Caroline Rodrigues da Silva e Lopes, RG. 32770338-6 - Desenhista Industrial;
4- Gisele da Silva RG 020202818-9 - professora de geografia;
5- Nicole Tavares Paiva, RG: 2000010606239 - Artesã;
6- Natália Marques dos Santos, Rg:42386759-3 - Produtora de moda e estilista;
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