quarta-feira, 6 de julho de 2011

Cogumelo matador

VERSÁTIL: Usado em tratamento de câncer e Aids, cogumelo do sol também acaba com protozoários
Crédito: Alamy/Otherimages
Dores, mal-estar, enjoo e problemas generalizados no fígado, rins e coração são os sintomas não de uma doença, mas do tratamento mais usado na leishmaniose. A doença, que pode incapacitar o fígado e levar à morte, atinge 14 a cada 100 mil brasileiros. “Os medicamentos disponíveis hoje são tóxicos e a cura não é garantida”, diz Eduardo Ferraz Coelho, professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, se referindo aos derivados do antimônio, um semimetal que, em altas concentrações, provoca todos esses maléficos efeitos colaterais.

Coelho é um dos participantes do grupo de pesquisa que desenvolveu um novo remédio para tratar a doença: sua base é o fungo Agaricus brasiliensis, popularmente conhecido como cogumelo do sol. Além de não apresentar efeito colateral em humanos, o cogumelo tem aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos, como fitoterápico para o tratamento auxiliar de câncer e Aids, devido a seus bons efeitos sobre o nosso sistema imunológico. O pesquisador e sua equipe na universidade submeteram o cogumelo a testes de laboratório para chegar a uma formulação efetiva contra os parasitas, os protozoários do gênero Leishmania, transmitido pela picada da fêmea do mosquito-palha. Esses vetores carregam os protozoários após picar cães infectados.

Das cerca de 100 substâncias presentes no extrato bruto do fungo, obtido após a desidratação e maceração dos cogumelos, eles conseguiram sintetizar cinco, que se provaram altamente eficazes contra a doença. “Nos testes com ratos, conseguimos zerar os cerca de 10 milhões de parasitas que se hospedam em órgãos como o baço”, diz o pesquisador. As substâncias inibem o metabolismo dos protozoários e matam o Leishmania sem afetar o funcionamento dos macrófagos, as células do sistema imunológico humano em que eles se hospedam.

O próximo passo é testar os medicamentos em cães, os mais afetados pela doença — são 10 mil casos para cada registro em paciente humano. A previsão dos pesquisadores é que dentro de sete anos o novo remédio chegue às prateleiras das farmácias brasileiras. “É mais barato, poderá ser administrado via oral e, o melhor, praticamente não tem efeitos colaterais.”

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